Amor em espera
Quando conheci a Raquel e o Miguel, soube logo do amor que estava em espera, ou em lista de espera à 16 anos.
Leram bem, foram 16 anos, não o amor deles em espera.
Mas o amor por um filho.
É muito tempo, pensamos nós.
Para eles também foi.
Foi duro, muito duro, como a Raquel nos conta.
Nesta conversa que tive com a Raquel para o nosso Blog, foi um recordar de tudo.
Mas agora já com um brilho nos olhos.
Um olhar descanso.
E uma mensagem de esperança.
Inês - Podemos dizer que foi um amor em espera durante 16 anos?
Raquel- Sim, muito.
Inês - E em lista de espera, também? Sei que menos tempo?
Raquel - (suspiros) Estas a falar da adopção? Em lista de espera foram 3 anos. E estava eu gravida de 6 meses quando me chamaram.
Inês - Vamos começar pelo inicio, quando é que notaram que sozinhos não conseguiam engravidar?
Raquel - Ao fim de um ano. Nós casamos e sempre quisemos ter filhos. E ao fim de 1 ano como não conseguíamos pedimos ajuda.
Inês - Quem deu o primeiro passo para os tratamentos?
Inês - Quem deu o primeiro passo para os tratamentos?
Raquel - Fomos os dois.
Inês - Foi um processo duro?
Raquel - Muito! Muito duro! Difícil. Só quem passa é que sabe.
Inês - Como foi, todo o processo?
Raquel - Olha é um processo que tem de ser levado pelos dois em conjunto. Porque senão não conseguimos. (suspiros) Íamos sempre os dois ás consultas. Os passos eram sempre dados em conjunto. (silencio) ... Só assim é que se consegue.
Inês - Como foi, todo o processo?
Raquel - Olha é um processo que tem de ser levado pelos dois em conjunto. Porque senão não conseguimos. (suspiros) Íamos sempre os dois ás consultas. Os passos eram sempre dados em conjunto. (silencio) ... Só assim é que se consegue.
Inês - Sei, que no 2º tratamento que fizeram, falhado por sua vez, desistiram?
Raquel - Desistimos. Pela desilusão. E por ser muito caro.
Inês - Quantos anos demorou, entre o primeiro e o segundo tratamento?
Raquel - Foi um espaço de um ano e tal... Do segundo para o terceiro mais de 10 anos...
Inês - Então foram 5 anos até ao 1º tratamento, um ano e tal ate ao segundo tratamento e mais de 10 para o terceiro...
Raquel - Sim, mas nesse espaço de 10 anos, tentámos sempre pelo método natural.
Inês - Quantos anos demorou, entre o primeiro e o segundo tratamento?
Raquel - Foi um espaço de um ano e tal... Do segundo para o terceiro mais de 10 anos...
Inês - Então foram 5 anos até ao 1º tratamento, um ano e tal ate ao segundo tratamento e mais de 10 para o terceiro...
Raquel - Sim, mas nesse espaço de 10 anos, tentámos sempre pelo método natural.
Inês - É aqui que entra a lista de espera... Passados 10 anos.
Raquel - Sim, nesse tempo, foi.
Inês - Entraram com o processo de adopção com o coração cheio de amor... ou foi para tentar/ver o que ia dar?
Raquel - Foi mesmo para tentar adoptar. Com o coração cheio de amor para dar a uma criança que precisava de carinho, de apoio, de amor, uma casa, uns pais.
Inês - Quanto tempo durou esse processo de adopção?
Raquel - Um ano e qualquer coisa, talvez.
Inês - Pensaram alguma vez em desistir?
Raquel - Não! Nunca pensámos em desistir porque era aquilo que queríamos. Já que não conseguíamos de forma natural, íamos ter um filho de coração.
Inês - Até que resolveram tentar mais uma vez, fazer novo tratamento...
Raquel - Sim...
Inês - E há terceira foi de vez...
Raquel - Sim, foi... Inesperado, mas foi. Não estava a contar...
Inês - Para ti, sei que este processo foi duro, como já me disseste, e para o Miguel?
Raquel - Também. Eu acho que ele sofria mais calado, enquanto que eu falava, dizia o que acontecia, ele não. Sofria mais calado. Havia momentos em que ele explodia. Mas fora isso não dizia nada, ficava calado. E eu via nele que ele não estava bem.
Inês - Mas não falavam?
Raquel - Por vezes não. Depois quando eu insistia, ele la dizia, "Que era difícil", que tentava-me apoiar a mim. E éramos os dois ao mesmo tempo.
Inês - E quando descobriste que estavas gravida?
Raquel - Olha vais-me fazer chorar.... (risos) olha não queria acreditar... porque foi um processo complicado... (A Raquel emocionou-se... mas como era um recordar de um momento tão feliz, só nos conseguimos rir...) No momento que descobri não me acreditei, porque foi pelo telefone.
Inês - Foi pelo telefone que soubeste que estavas grávida?
Raquel - Foi. Porque fui fazer as analises a Guimarães ao hospital, para ver se estava grávida, e eu tinha de ligar á uma hora da tarde para ver se tinha conseguido. O Miguel estava comigo. Eu queria ligar mas não tinha coragem. Então fechei-me na casa de banho com o telemóvel, e liguei para a enfermeira, e a enfermeira diz-me: " Conseguiste Raquel, estas grávida!!". A minha primeira reacção foi, "Não acredito... " e ela disse "Estás, estás grávida, mas cuidado, isto é um processo que ainda temos de ter cuidados, mas neste momento está tudo bem, estás grávida.", desatei a chorar, e comecei a gritar pelo Miguel. Ele também não se queria acreditar. Abraçamo-nos! São emoções que nós não esquecemos. Mas foi muito bom. Claro que eu atá ao momento de ir fazer a ecografia, não acreditava.
Inês - Eu lembro-me de estar na casa do Flávio, e tu dizeres, que estavas grávida, mas ainda era segredo. Quando contas-te a toda a gente, como foi, 16 anos depois...
Raquel - Eu não disse a ninguém que ia fazer o tratamento.
Inês - Ninguém sabia que tinhas feito o tratamento?
Raquel - Não.. as únicas pessoas que sabiam que eu ia fazer um tratamento eram duas tias minhas. Porque eu ia precisar de ajuda quando estivesse de repouso, então só lhes disse a elas. E a uma colega de trabalho. Na minha família ninguém sabia nada. Fiz, fiquei grávida, fiquei logo de baixa medica, e entretanto continuei de baixa. Só contei a minha família porque eles estavam a ficar desconfiados, como é que eu estava em casa, porque não ia trabalhar... E eu inventava uma desculpa. Eu tinha sido operada ao ouvido 3 semanas antes de engravidar. Então dizia que a operação não tinha corrido muito bem, e era por isso... Então só contei quando fiz a ecografia a 4 de Dezembro. Porque só nesse dia ia saber se realmente estava gravida, porque podia ser uma gravidez falsa. Contei aos meus pais e aos meus sogros primeiros. Comprei uma caixinha e coloquei umas meias pequeninas, ficaram a olhar, não se acreditavam...
Inês - Mas não falavam?
Raquel - Por vezes não. Depois quando eu insistia, ele la dizia, "Que era difícil", que tentava-me apoiar a mim. E éramos os dois ao mesmo tempo.
Raquel - Olha vais-me fazer chorar.... (risos) olha não queria acreditar... porque foi um processo complicado... (A Raquel emocionou-se... mas como era um recordar de um momento tão feliz, só nos conseguimos rir...) No momento que descobri não me acreditei, porque foi pelo telefone.
Inês - Foi pelo telefone que soubeste que estavas grávida?
Raquel - Foi. Porque fui fazer as analises a Guimarães ao hospital, para ver se estava grávida, e eu tinha de ligar á uma hora da tarde para ver se tinha conseguido. O Miguel estava comigo. Eu queria ligar mas não tinha coragem. Então fechei-me na casa de banho com o telemóvel, e liguei para a enfermeira, e a enfermeira diz-me: " Conseguiste Raquel, estas grávida!!". A minha primeira reacção foi, "Não acredito... " e ela disse "Estás, estás grávida, mas cuidado, isto é um processo que ainda temos de ter cuidados, mas neste momento está tudo bem, estás grávida.", desatei a chorar, e comecei a gritar pelo Miguel. Ele também não se queria acreditar. Abraçamo-nos! São emoções que nós não esquecemos. Mas foi muito bom. Claro que eu atá ao momento de ir fazer a ecografia, não acreditava.
Inês - Eu lembro-me de estar na casa do Flávio, e tu dizeres, que estavas grávida, mas ainda era segredo. Quando contas-te a toda a gente, como foi, 16 anos depois...
Raquel - Eu não disse a ninguém que ia fazer o tratamento.
Inês - Ninguém sabia que tinhas feito o tratamento?
Raquel - Não.. as únicas pessoas que sabiam que eu ia fazer um tratamento eram duas tias minhas. Porque eu ia precisar de ajuda quando estivesse de repouso, então só lhes disse a elas. E a uma colega de trabalho. Na minha família ninguém sabia nada. Fiz, fiquei grávida, fiquei logo de baixa medica, e entretanto continuei de baixa. Só contei a minha família porque eles estavam a ficar desconfiados, como é que eu estava em casa, porque não ia trabalhar... E eu inventava uma desculpa. Eu tinha sido operada ao ouvido 3 semanas antes de engravidar. Então dizia que a operação não tinha corrido muito bem, e era por isso... Então só contei quando fiz a ecografia a 4 de Dezembro. Porque só nesse dia ia saber se realmente estava gravida, porque podia ser uma gravidez falsa. Contei aos meus pais e aos meus sogros primeiros. Comprei uma caixinha e coloquei umas meias pequeninas, ficaram a olhar, não se acreditavam...
Inês - E o Miguel, é um pai babado?
Raquel - Muito, muito... ele, meu Deus... muito babado, muito cuidadoso, é ele que cuida dela de manhã, porque eu saiu as 6,30h e tem de ser ele a tratar dela. É ele que a veste, que a leva ao colégio, toda a rotina da manhã com a Margarida é ele que faz.
Inês - Tem de ser, porque a Margarida é igual ao Pai.
Raquel - Mesmo, ando eu grávida, e ela é igual ao pai.
Inês - Como são as tarefas em casa, ele ajuda?
Raquel - Muito!! Ajuda sempre em tudo, é ele que prepara a agua do banho da Margarida. Sempre lhe demos banho em conjunto, sempre. Agora que ela está maior, ele prepara a agua do banho e eu dou-lhe banho, enquanto ele prepara o pijama. Pronto, mas estamos sempre os dois... ou enquanto ele arruma a cozinha eu trato dela, sempre assim.
Inês - Quando engravidas-te, deste um curso de cozinha ao Miguel?
Raquel - Dei. (risos) mas deu resultado, porque ele agora consegue fazer um bom arroz. Já adianta as coisas enquanto eu estou com a a Margarida.
Inês - Quando engravidas-te, deste um curso de cozinha ao Miguel?
Raquel - Dei. (risos) mas deu resultado, porque ele agora consegue fazer um bom arroz. Já adianta as coisas enquanto eu estou com a a Margarida.
Inês - Como tem sido, agora estes tempos com a Margarida, depois de 16 anos á espera dela?
Raquel - Tem sido bom. Dizem que uma criança muda a vida. Muda, mas não é aquilo que as pessoas falam.. Que é tão difícil, que não fazes nada.. Não!! Faço tudo aquilo que fazia. Claro que agora tenho a Margarida, mas também tenho sorte de ela ser uma criança sociável, também me ajuda muito. Esta sempre bem disposta, sorridente, e isso ajuda-me muito, não vou dizer que não.
Inês - Poderão vir mais a caminho?
Raquel - (suspiros) Neste momento não sei. Porque vou fazer 40 anos, e tudo aquilo que eu passei, não sei.
Inês - Não queres passar novamente pela desilusão?
Raquel - Não. Já foram muitas, e neste momento .... aliás eu vou para a semana á segurança social, para saber se vou continuar com a adopção ou não.. e vou desistir... vou dar oportunidade a quem não consegue mesmo. Tenho colegas que como eu estavam a tentar, querem muito ter uma criança e não tem, porque não conseguem mesmo, por doenças....
Inês - Ou seja, tu não vais desistir por a criança que pode vir não ser tua. Vais desistir por...
Raquel - Não, vou desistir, porque já tenho uma minha, a outra também ia ser minha! Mas se eu adoptasse antes de engravidar, só ia ficar com ela. Não tinha tentado mais. Vejo assim. Como eu para já tenho uma filha, vou dar a oportunidade, de outros pais poderem ter um filho também, que de outra forma não podem ter.
Inês - Tu conviveste com várias pessoas, que como tu estavam a tentar. E formaram um grupo de amigos.
Raquel - sim, sim... Neste momento ainda falamos, ligamos. Muitos deles, ainda não tem uma criança, nem de adopção. Eu sinto-me uma privilegiada, porque neste momento tenho a Margarida, mas eu já podia ter uma criança de adopção. E sei que neste caso, se eu voltar a ficar em lista de espera, vai ser aquela ansiedade, de quando vai ser.. E são 3 anos de espera.
Inês - Não queres passar novamente pela desilusão?
Raquel - Não. Já foram muitas, e neste momento .... aliás eu vou para a semana á segurança social, para saber se vou continuar com a adopção ou não.. e vou desistir... vou dar oportunidade a quem não consegue mesmo. Tenho colegas que como eu estavam a tentar, querem muito ter uma criança e não tem, porque não conseguem mesmo, por doenças....
Inês - Ou seja, tu não vais desistir por a criança que pode vir não ser tua. Vais desistir por...
Raquel - Não, vou desistir, porque já tenho uma minha, a outra também ia ser minha! Mas se eu adoptasse antes de engravidar, só ia ficar com ela. Não tinha tentado mais. Vejo assim. Como eu para já tenho uma filha, vou dar a oportunidade, de outros pais poderem ter um filho também, que de outra forma não podem ter.
Inês - Tu conviveste com várias pessoas, que como tu estavam a tentar. E formaram um grupo de amigos.
Raquel - sim, sim... Neste momento ainda falamos, ligamos. Muitos deles, ainda não tem uma criança, nem de adopção. Eu sinto-me uma privilegiada, porque neste momento tenho a Margarida, mas eu já podia ter uma criança de adopção. E sei que neste caso, se eu voltar a ficar em lista de espera, vai ser aquela ansiedade, de quando vai ser.. E são 3 anos de espera.
Inês - Hoje é dia do pai, queres deixar alguma mensagem ao Miguel?
Raquel - (com os olhos cheios de lágrimas) Que continue a ser o pai maravilhoso que ele é! Que é muito carinhoso, que sei que ele adora a Margarida, que faz tudo por nós. E sem dúvida um óptimo pai. Que o amo muito! Que o amámos muito!
Assim terminou a nossa conversa.
Com as duas de lágrimas nos olhos.
Com uma mensagem especial neste dia do pai.
Com uma mensagem de força, para todos aqueles que como a Raquel e o Miguel tentam durante muito tempo ter um filho.
Por vezes faz bem "desistir", para depois voltar a tentar, sem pressas...
Um Feliz dia, para todos os pais.
Obrigada Raquel.
Hoje a Margarida faz 19 meses.
P.S. Desculpem a qualidade de algumas fotos, mas foram retiradas do album de grávida da Raquel.
Inês
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O nosso mundo
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